Quantcast
Channel: Comentários sobre: O que a derrota de Sarkozy significa?
Viewing all articles
Browse latest Browse all 6

Por: Oscar Berg

0
0

Cher Marcelo,

Concordo plenamente com você quando você fala que analisar o cenário político mundial (e sobretudo um tão complicado como o francês) sob a prisma da política brasileira é um belo atalho a cometer um erro. Não concordo quando você fala do Partido Socialista, do meu PS, como um partido arcaico, quando olho vários partidos brasileiros, acredito que se seguissem o caminho trilhado pelo PS francês estariam hoje mais abertos a temas contemporâneos e à uma discussão democrática, deixariam inclusive de lado a já ultrapassada ótica marxista (que combina mais aos longínquos anos de Jean Jaurès e Léon Blum, que mesmo aos tempos de glória de Mitterrand e aos atuais do espírito essencialmente social-democrata do PS). O problema do PS no entanto, resta a sua dependência aos ditos dinossauros do partido e a dificuldade em renovar a máquina partidária, ainda ligado aos tempos mitterrandistas, como exemplos, os jurássicos Laurent Fabius e Pierre Mauroy (ainda que eu guarde uma profunda admiração por eles, principalmente ao último). A grande falha do PS foi a dificuldade em arrumar a casa após as duras derrotas de Lionel Jospin, um grande socialista, à Jacques Chirac (um político ainda hoje admirado, e com uma certa razão, pelos franceses). No entanto, este problema não recaiu unicamente a Jospin e ao PS francês, como também a todos os governos social-democratas da época, a perda da identidade social-democrata abateu todos seus governantes (Tony Blair, Bill Clinton, Jospin, FHC, etc.) fazendo com que até mesmo estes cometessem políticas em desacordo com sua base histórica, como privatizações excessivas.

A vitória do PS em todas as últimas eleições franceses é fruto primeiramente da excepcional militância do partido e de boas lideranças conduzidas por François Hollande e Martine Aubry. A vitória, contudo, é fruto também de um desgaste da direita, que desde a fundação da UMP de Sarkozy, e a união da direita popular à direita clássica (ao melhor estilo giscardiano), perdeu o seu norte e atualmente está mais próximo àquilo que conhecemos como extrema-direita do que propriamente a Front National sob o comando de Marine Le Pen (que nesta semana praticou um discurso bem alavancado à esquerda no Journal de 20 Heures da France 2). A última vitória que falta aos socialistas é a presidencial (até mesmo o senado foi conquistado “heroicamente” neste ano, pela primeira vez sob a Va República). A vitória presidencial, entretanto, parece ainda longe à nós. Desde o início das Primaires Citoyennes fiz forte campanha à François Hollande, mais vejo hoje que patinando com 32.5% das intenções de voto (tendo os outros candidatos da esquerda não somando 15% das intenções), ainda que à frente de Nicolas Sarkozy, será muita complicada a esquerda vencer (em1965, com os mesmos 32% no primeiro turno, Mitterrand estacionou nos 45% face ao General de Gaulle) ainda mais pois como a história da Va República nos ensina, o primeiro turno é apenas um round inicial, uma mera preparação ao segundo turno, bem ao desejo de De Gaulle. Está aí 1995 (no qual Jospin venceu o primeiro turno e perdeu o segundo) para nos mostrar.

Amicalement,

Oscar Berg


Viewing all articles
Browse latest Browse all 6

Latest Images





Latest Images